Começo pela palavra que melhor define o livro: Espetacular. A obra de Raghuram Rajam, ou Raghu para os íntimos que não é o meu caso, é o melhor trabalho que já li sobre as causas que levaram o mundo a grave crise financeira e a recessão no bloco desenvolvido. Já li diversos trabalhos mas nenhum conseguiu ser tão abrangente quanto o livro do Raghuram.
Ele, diferentemente dos outros, vislumbra o sistema financeiro apenas como um instrumento de um conjunto de incentivos perversos que criaram as bases para a crise. Nada de aliviar a barra dos bancos. Eles são culpados. Mas os incentivos criados é que tornaram o problema gigantesco. Raghu tem o mérito de em 2005, na Conferência de Jackson Holle, ter avisado sobre os problemas no sistema financeiro global e americano e sobre o que isso poderia resultar. Foi ridicularizado pelas eminências pardas presentes. Deu no que deu.
Em primeiro lugar, o aumento da desigualdade nos EUA nos anos 80 levou os políticos a reformularem leis, não para reduzi-la, mas para criar formas dos mais pobres – ou aqueles que foram alijados da pujança econômica por falta de oportunidades educacionais e de trabalho – pudessem se sentir um pouco melhor.
E como fizeram isto? Incentivando o crédito, especialmente o habitacional de todas as formas possíveis. Deste incentivo ao crédito para os mais pobres até a criação de instrumentos que incentivavam os bancos e as agências imobiliárias a emprestarem mais para quem não poderia pagar e, de forma sorrateira, distribuir os riscos através de todo o sistema bancário, foi mais um pulo.
Os políticos perceberam e passaram a incentivar – o que deviam coibir – afinal pobres votam. A construção desta história é bem completa e robusta.
Todavia o livro não é apenas isto. Como economista chefe do Fundo Mundo Monetário Internacional, Raghu pode vislumbrar as dificuldades associadas ao comércio internacional e os fluxos de capitais entre países, explicando os problemas de superávits em conta corrente exagerados e financiamento do consumo dos países com déficits.
Esta parte especialmente deveria ser lida por todo o estudante de economia. Ele não interpreta, apenas narra a construção dos desequilíbrios. É simplesmente fascinante. Bom, o livro todo é.
Em geral autores indianos escrevem para que você compreenda o assunto, e não para mostrar o quanto dominam técnicas avançadas. Eles são os autores mais didáticos do mundo, pelo menos em economia. Seguindo a linha de Amartya Sen, Jagdishw Baguathy e outros. Acho que toda a minha geração deve algo em maior ou menor medida, ao Sr. Gujarati, pelo menos os primeiros passos em econometria.
E Raghu não é diferente.
Aos jovens economistas, se me permitem um conselho: antes de ouvir as bobagens dos professores jurássicos e preconceituosos sobre a escola econômica de Chicago, leiam Linhas de Falha e vejam como um brilhante professor (há mais de 20 anos leciona lá) consegue defender abertamente a redução da pobreza através de mecanismos de mercado, igualdade de oportunidade e mais regulação sobre o sistema financeiro.
Nada parecido com o que é dito em sala para vocês sobre os Chicago Boys.
Para qualquer pessoa interessada minimamente em economia mundial e os seus problemas, a leitura de Linhas de Falha é fundamental.
1 abraço de quebrar costela.