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  • Foto do escritorÁlvaro Dezidério

Outliers - Malcolm Gladwell



Malcolm Gladwell é um iconoclasta. O meu iconoclasta favorito. Sua forma alternativa de interpretar a realidade levantando novas teses para explicar fatos já conhecidos é brilhante. Longe de apresentar explicações definitivas, Malcolm insere um novo ponto de vista, mas sempre elaborando um raciocínio completo.

Como todo pesquisador, às vezes, ficamos com a impressão que se misturou fé com fatos, o que de forma alguma compromete a qualidade de seu trabalho. Pesquisa é assim. Uma nova tese, mais completa e robusta do que as anteriores, será considerada uma verdade temporária, até que outra pesquisa possa refutá-la, ou ratificar os resultados. É assim que a ciência e o história das ideias evolui.


A despeito dos títulos de seus livros no Brasil serem muito mal traduzidos (dando a falsa impressão de que se trata de literatura de aeroporto) as obras são sensacionais. Conheci o autor através de “Blink” (A piscada), depois li Tipping point (Ponto da virada) e agora o “Outliers” (Descubra por que algumas pessoas têm sucesso e outras não), sendo este último o título mais mal traduzido de todos os tempos.


Em resumo, o livro destaca que muitas horas de prática, o ambiente e a cultura são fatores determinantes para alguém se saia bem em alguma atividade. Malcolm toma como dado que esforço e talento são necessários, mas são características que sozinhas não são suficientes para que se tenha sucesso em qualquer profissão. E deste ponto parte sua pesquisa.


Sobre a prática, eu não sabia que os Beatles tocaram em uma “casa de shows” em Hamburgo, na Alemanha durante dois anos, 3 horas por dia, 5 dias por semana. É obvio que o talento de John e Paul foi fundamental e necessário para o sucesso estrondoso, mas que as horas de prática ininterrupta, tocando juntos durante dois anos, mais do que algumas bandas tocam a carreira inteira, foram determinantes.


Bill Gates teve acesso a um computador em um centro universitário – e varava as madrugadas junto com Paul Allen programando simplesmente porque gostavam – no tempo em estas coisas nem existiam fora dos grandes centros de pesquisa. Quando os computadores passaram a ser acessíveis, eles estavam muito à frente dos demais membros da indústria.


E existem diversos outros casos. O que o autor sugere é que muitas horas de prática fazem uma diferença enorme, mesmo que estejamos falando apenas de talentosos.


O ambiente importa. Se você nasce em uma família ou comunidade que preza a cooperação e incentiva o estudo e trabalho, as chances de ser bem sucedido serão maiores. Além disto, você terá ajuda de sua família ou comunidade, quando encontrar dificuldades e limitações. O autor destaca é que se investigarmos a trajetória de qualquer pessoa bem sucedida, em algum momento alguém de sua comunidade percebeu este talento e forneceu o impulso necessário.


A cultura é demonstrada com dois exemplos antagônicos muito interessantes (sem spoilers). Mas basta dizer que a explicação para o desempenho em matemática dos habitantes do sul da China ser assombrosamente melhor do que qualquer outro país do mundo vem da cultura, desenvolvida nos arrozais de que trabalho duro e persistência vão, invariavelmente, gerar frutos no futuro. A frase de que “nenhum homem (ou mulher) que acorde antes do sol raiar durante 360 dias do ano deixará de enriquecer a família” vem da cultura dos arrozais. Se acha que é forçar a barra, conhece alguém que aprendeu matemática sem persistência? Este capítulo é simplesmente incrível. O melhor de um livro excelente.


O conceito de inteligência adaptativa é bastante explorado. Similar à inteligência emocional, é um dos itens mais importantes para sobrevivência no mundo profissional. É menos importante ser um gênio, quando se esta diante de muitas pessoas inteligentes, e mais importante desenvolver sua inteligência adaptativa. Ponto para Malcolm. Essa é uma verdade, na minha opinião, incontestável. Já vi algumas carreiras de pessoas brilhantes estagnar por falta desta inteligência.


Vale a leitura do Epílogo, onde ele relata como era a vida na Jamaica no século 19 e 20 (Malcolm é inglês, mas filho de jamaicanos), para explicar como sua teoria sobre a cultura importa, tomando como exemplo sua mãe. É chocante e emocionante ao mesmo tempo.

Para quem gosta de autores que te fazem repensar conhecimentos adquiridos e refletir sobre o ambiente em que você está, além de aprender de forma prazerosa com uma narrativa esplêndida, recomendo o livro. E para quem gostou de Blink ou Tipping point é leitura obrigatória.


1 abraço de quebrar costela

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