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  • fernandapros

A MAIS PURA VERDADE SOBRE A DESONESTIDADE

Atualizado: 30 de out. de 2020

*Dan Ariely

Na minha opinião, Dan Ariely é o mais divertido e didático estudioso do comportamento humano da atualidade. Talvez existam pesquisadores melhores ou fazendo estudos mais relevantes para o futuro da humanidade. Mas fazer-se entender fora da academia é algo que poucos pesquisadores conseguem. Esta é a principal característica de Dan Ariely: fazer-se entender claramente. E isto já torna o livro incrivelmente prazeroso de ser lido. Após 3 livros para o público em geral, ele acertou a mão no melhor estilo Freakeconomics. 


A mais pura verdade sobre a desonestidade transcende a discussão comum sobre ser ético ou não, dado que todo mundo é sempre ético quando perguntado, mas nem sempre quando avaliado, e aborda situações reais de como as pessoas de fato respondem às decisões do dia a dia que implicam em alguma flexibilização moral daquilo que julgam ser certo para os outros e para si.  Através dos resultados de diversos experimentos em laboratórios simulando a realidade das pessoas e as escolhas que estas pessoas fazem em diferentes situaçoes, Ariely testa hipóteses muito incômodas sobre o comportamento da sociedade.  Somos 100% do tempo honestos e probos? A resposta dos humanos é sim.  Os testes dizem que não.


Antes que alguém jogue uma pedra dizendo que o autor chama todo mundo de bandido, deixe-me explicar um caso.  Se você é colocado em uma situação onde trapacear marginalmente não irá gerar mal para outros diretamente, seu senso de ética mantém você longe da pequena trapaça. Todavia, se são inseridos elementos que mudam o ambiente, tais como recompensa monetária, ou competição com outros (o que aciona o ego) a tendência dos grupos testados a praticar pequenos atos de desonestidade acaba se revelando. Não é que compensações emocionais ou dinheiro façam de um honesto um trapaceiro. Estes incentivos só revelam a verdadeira  natureza dos jogadores em um ambiente de decisões. 


O capítulo de nome “Por que estragamos tudo quando estamos cansados” é um dos mais divertidos e realistas que eu já li. Pessoas esgotadas tendem a trapacear mais, não porque sejam naturalmente desonestas, mas para alcançar seus objetivos sabendo do limite físico, mental, e de tempo, fazem com que ela seja um pouco mais, digamos, moralmente flexível. 


Se o exemplo ficou abstrato demais, pense no vendedor que ao saber que a supervisão sobre suas vendas é aleatória, preenche seus relatórios com números marginalmente maiores do que de fato ocorreram, correndo o risco de ser apanhado, mas pesando os custos de ser pego e o benefício de não ter que lidar com o esgotamento físico continuado de manter-se em campanha de vendas.  Na verdade este resultado é bastante interessante para aquelas que desenham incentivos para trabalhadores. 


Ariely de forma alguma conclui que o ser humano é desonesto e corrupto por natureza. Mas sim que situações geradas no ambiente em que se está, levam a comportamentos que se avaliados friamente são desonestos. Daí a importância da supervisão e da criação de um ambiente de incentivos desenhados corretamente.  A principal conclusão do livro é que incentivos importam. E muito. 


O livro é bem mais realista do que utópico, o que o deixa sensacional. Além disto, possui 250 páginas muito divertidas e pode ser lido sem despender um tempo exagerado. Para quem curte economia comportamental aplicada, ou até a linha Freakeconomics, é leitura obrigatória.


1 forte abraço. 

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